Os Psicologos e Suas Psicologias
Um texto para não psicólogos
Quando decidimos que vamos procurar um psicólogo, surgem muitas dúvidas, bastante justificáveis, já que passaremos a dividir com este profissional, angústias e sofrimentos que não compartilhamos tão facilmente. Para quem nunca consultou um psicólogo surgem questões de ordem prática: É semanal? Pode ser uma vez por mês? Quanto tempo duram as sessões?
Estas são fáceis de responder, a sessão dura em torno de uma hora e antes de dizer qual a frequência das sessões, o psicólogo precisa fazer o psicodiagnóstico, tal qual o médico faz uma investigação antes de prescrever o tratamento. Alguns casos podem ser quinzenais e outros iniciam semanais para mais tarde espaçar as sessões, tudo depende do padecimento e da gravidade do caso.
O que a maioria das pessoas que não são da área desconhecem, e possivelmente muitos vestibulandos aspirantes à psicólogos também, é que não existe uma única teoria psicológica, uma única forma de compreensão do fenômeno psicológico. Ao falar de psicologia, logo se ouve “Freud explica”, isso se deve ao fato da psicanálise ser mais difundida, mas Skinner, Piaget, Sartre, entre outros, também explicam.
Cada profissional tem uma abordagem teórica para embasar sua prática clínica e elas diferem muito entre si. Daria para dizer que o psicólogo sai da faculdade um clínico geral, e a partir daí cada um vai se aperfeiçoar e estudar a fundo a abordagem que escolheu.
A psicologia, como ciência humana, possui objeto de estudo definido mas experimente perguntar a diferentes psicólogos qual o objeto de estudo. As respostas serão diversas: o homem, o inconsciente, o comportamento manifesto, a personalidade, entre outros. Um psicólogo que estudou Freud por exemplo, vai considerar o inconsciente, instância que os existencialistas Sartrianos ou os Comportamentais Cognitivos não consideram, e isso modifica totalmente a forma de compreender e tratar uma psicopatologia.
Não há um juiz – e nem poderia – para dizer qual é a correta ou funciona melhor, mas na hora de escolher um profissional, julgo importante o sujeito ter essa informação para fazer a melhor escolha que lhe cabe.
E mais importante ainda, é compreender que a psicologia é um ramo das ciências humanas, e neste sentido prestamos conta ao nosso ofício, uma das principais responsabilidades do psicólogo que consta no Art. 1º do nosso Código de Ética é “prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional”.
Tal qual o engenheiro não faz um projeto em 10 minutos na hora do cafezinho, pois ele precisa calcular quanto ferro, densidade do cimento e tudo mais, o psicólogo não tem “uma conversinha pra ver se ajuda” e não analisa comportamentos na hora do almoço. Os psicólogos se utilizam de metodologias para coleta de informações e verificação de sintomas para então traçar o plano de tratamento, precisam manter a neutralidade, não fazem julgamentos ou viram conselheiros.
As pessoas têm buscado respostas em vários campos do saber humano e assistimos uma crescente oferta de formas variadas e atrativas de terapia, por isso nos parece propícia a reflexão acerca do papel do psicólogo. Algumas práticas não psicológicas têm sido erroneamente associadas à psicologia: regressão, parapsicologia, florais e outras condutas metafísicas tem sido associadas ao fazer psicológico mas estas práticas não são contruídas no campo da ciência, são outras formas de saber.
É essencial para um psicólogo respeitar o papel da psicologia e sua natureza científica, além de zelar pela promoção da saúde mental e qualidade de vida das pessoas.